Bebê sobrevivente, que usou máscara de oxigênio feita de PET, volta a ser internado em Jutaí
- http://acritica.uol.com.br/noticias/Bebe-sobrevive
- 1 de fev. de 2016
- 4 min de leitura

Outro gêmeo não resistiu e morreu. Após um dia de alta, o bebê sobrevivente do sexo masculino teve uma parada respiratória e foi internado novamente
Manaus (AM), 01 de Fevereiro de 2016
ISABELLE VALOIS
O casal de gêmeos nasceram prematuros, de seis meses, na madrugada de quinta-feira (28), na unidade de saúde de Jutaí. A menina faleceu horas depois por falta de suporte neonatal (Divulgação)
O bebê sobrevivente do caso dos gêmeos recém-nascidos na Unidade Hospitalar de Jutaí (750 quilômetros de Manaus), no qual os profissionais de saúde improvisaram máscara de oxigêniofeito a partir de uma mesma garrafa PET, voltou a ser internado na madrugada de domingo (31).
A informação foi repassada pela tia do bebê, a autônoma Rayssa Neres de Pinho, de 19 anos. Ela contou que o bebê teve uma parada respiratória na madrugada de domingo. “Os médicos tinham dado alta para minha irmã Francisca e o bebê na tarde de sábado. Mas, quando foi ontem de madrugada, meu sobrinho ficou sem respirar. Minha irmã e minha mãe saíram correndo para o hospital, disseram que ele chegou a ficar bem roxinho, e foi retornado”, disse.
Conforme a tia da criança, a direção do hospital informou para mãe dos bebês que a Secretaria Estadual de Saúde (Susam) iria transferir o bebê para Manaus. “Até agora não sabemos se o procedimento foi realizado, mas estamos aguardando por mais informações”, comentou.
Em nota, a Susam informou que já enviou uma aeronave (UTI móvel) ao município para realizar a transferência para Manaus.
Entenda o caso
Imagens obtidas pelo Portal A Crítica neste fim de semana mostram dois gêmeos recém-nascidos na Unidade Hospitalar de Jutaí usando uma espécie de incubadora improvisada e máscara de oxigênio neonatal feitos a partir de uma mesma garrafa PET - com a parte de cima servindo para um bebê e a parte de baixo para outro. Testemunhas relataram que no local não há equipamentos do gênero e muito menos Unidade de Terapia Intensiva de Neonatal. O casal de gêmeos que aparecem nas imagens é sobrinho da autônoma Rayssa Neres de Pinho, 19. De acordo com ela, a irmã, a dona de casa Francisca Neres de Pinho, de 20 anos, deu à luz os filhos prematuros na madrugada da última quinta-feira (28), na unidade de saúde do município de Jutaí. A menina morreu por volta de 11h do mesmo dia por falta de suporte neonatal.
Investigação
A Susam informou que não foi avisada sobre situação de gêmeos e abriu investigação interna.
O secretário estadual de Saúde, Pedro Elias de Souza, anunciou a abertura de sindicância para apurar as circunstâncias do atendimento prestado aos bebês gêmeos prematuros nascidos no Hospital de Jutaí, no último dia 27. O secretário considerou grave o fato de o hospital não ter acionado a Secretaria Estadual de Saúde (Susam), informando da situação, para que pudesse providenciar UTI aérea, serviço que é adotado em casos de emergência nos municípios do interior.
O secretário tomou conhecimento do caso dos bebês no final de semana e já na manhã desta segunda-feira (1) enviou ao município uma equipe formada por três técnicos da Secretaria Adjunta de Atenção Especializada do Interior, para iniciar o trabalho de apuração.
Um dos gêmeos prematuros, que apresentava maior fragilidade respiratória, foi a óbito poucas horas após o nascimento. O outro bebê, que já havia recebido alta hospitalar, voltou a ser internado na noite de domingo (31). Em virtude disso, o secretário determinou o envio de uma UTI aérea ao município (distante 750 quilômetros da capital), para remover o recém-nascido para Manaus. A criança, que deve chegar à capital no final da tarde, será levada para a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais da Maternidade Ana Braga.
Embora o médico que atendeu a criança no Hospital de Jutaí não tenha solicitado suporte intensivo para remoção – uma vez que o bebê está com o quadro estável, fazendo apenas uso de oxigênio em intervalos – a Susam considerou mais seguro removê-la em aeronave do tipo UTI. Além disso, para evitar que a criança fosse removida primeiramente para o município de Fonte Boa – Jutaí não dispõe de aeroporto –, a aeronave escolhida para montar a UTI foi do tipo anfíbio, permitindo acesso direto ao município.
Acionada pela Susam, ainda no final de semana, a direção do hospital de Jutaí informou que os gêmeos nasceram prematuros (de 7 meses) e que a menina tinha um quadro pulmonar mais debilitado. Mesmo tendo sido submetida aos mesmos procedimentos que o irmão (que já recebeu alta do hospital), não resistiu devido ao quadro de infecção respiratória aguda de etiologia alveolar, ocasionada por síndrome de membrana hialina, principal complicação de prematuridade. A direção destacou que a falta da máscara de venturi – que não estava disponível na unidade e que foi substituída pelo material improvisado de garrafa pet – não teria contribuído para o óbito do bebê. A Susam reitera que as circunstâncias do atendimento estão sendo apuradas, para as medidas cabíveis, além das providências imediatas já adotadas. O médico que realizou o procedimento é contratado pela Prefeitura de Jutaí.
Comentários